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quarta-feira, 16 de março de 2016

Porque um parto não é só um parto

(post originalmente publicado no blog Mamíferas, em janeiro de 2012)
http://www.fotomamifera.com.br/
"Já perdi a conta de quantas vezes ouvi: “Mas por que dar tanta importância ao parto, é só um momento, a relação com um filho é muito mais do que a via de nascimento!”, “A forma como o bebê nasce é só um detalhe!”. Uma amiga, mãe de filho pequeno, me disse uma vez: “você tem que entender que não é para todas as mães que o parto é um rito de passagem como pra você – para algumas, ele é um mero degrau para ter o filho nos braços”.
Na época, lembro que rechacei este raciocínio com veemência. Hoje, já consigo pensa-lo com mais isenção, tentando olhar as coisas com outros olhos e compreender que, quanto às experiências da vida, não existem parâmetros absolutos: o que para uns é oportunidade de amadurecimento e transformação, para outros é só mais um passo – e vice-versa.
Para mim, um parto não é apenas um parto. É uma transformação – ou pode ser. É – ou pode ser – uma daquelas experiências depois das quais nada mais volta a ser o que era antes, e para tudo é preciso encontrar novos lugares, novas formas de fazer, novos valores, novos caminhos. Comigo, foi assim. Nos dois partos: o primeiro, em que muita coisa saiu bem diferente do que eu sonhei e planejei, e o segundo, um parto ‘de sonho’, daqueles que a gente quer viver de novo, e de novo, e de novo.
É claro que eu não acredito, nem vou defender aqui a ideia de que a forma como um bebê nasce será absolutamente determinante para a relação mãe/filho, nem que nascer de cesárea, de parto normal ou natural, hospitalar ou domiciliar, pelas mãos de obstetra ou parteira, formará definitivamente o caráter dessa criança no futuro. Óbvio que não. Como dizia o escritor, há muito mais entre o céu e a terra do que julga a nossa vã filosofia – e embora eu acredite, sim, que a maneira como nascemos nos marca para a vida inteira, jamais estabeleceria aqui uma relação simplista de causa e efeito do tipo parto respeitoso = criança (e mais tarde, adulto) feliz. Somos mais complexos do que isso e nossa vida se tece na soma de muitas experiências ao longo do tempo, disso eu sei bem.
Mas em uma coisa eu acredito, e a esta ideia me apego para dar importância ao parto e às escolhas que determinam como ele há de acontecer: para mim, o parto é nosso primeiro passo nesta intensa caminhada que é a maternidade. Ao parir um filho, temos todo um futuro pela frente, como mães. O parto é apenas o começo, mas todo começo é importante – começar com o pé esquerdo, de maneira torta ou equivocada não significa fracasso eminente e inevitável, mas é sempre melhor começar de uma maneira atenta e presente, com o pé direito, não é mesmo?
Para mim, as escolhas que fazemos (ou as que, consciente ou inconscientemente, aceitamos não fazer) em relação a como parir nossos filhos são a primeira grande oportunidade para exercitar atitudes que serão extremamente importantes para que possamos exercer com consciência e maturidade nosso papel de mães: escolher como parir nos dá a oportunidade de assumir responsabilidades, de amadurecer e pensar por si, de tomar decisões informadas e conscientes, de não deixar que outros decidam por nós, de aceitar a falta de controle e o desconhecido, de escolher os caminhos mais corretos e não os mais fáceis. O longo caminho que temos que percorrer para parir como desejamos nos obriga a abandonar de uma vez por todas o papel da boa menina, aquela que acata o que lhe dizem e faz sempre o que esperam que faça, ainda que não queira, não concorde ou nem ao menos tenha parado para pensar a respeito; para parir de maneira ativa e consciente, é preciso que nos tornemos mulheres adultas e responsáveis, senhoras da própria história, que fazem o que entendem como correto sem pedir autorização, sem dar satisfações a quem quer que seja. Ter um parto ativo (aquele em que a mulher é senhora de suas escolhas, sejam elas quais forem) é libertar-se.
Por isso para mim o parto é importante e não mero detalhe: porque a forma como lidamos com esta experiência, a forma como batalhamos pelo que queremos e acreditamos ou deixamos que passem por cima de nossos desejos e prioridades, e sobretudo a forma como escolhemos adquirir consciência sobre o parto vivenciado, esta sim será determinante para o tipo de mãe que seremos para nossos filhos e, como óbvia consequência, para o tipo de pessoas que eles virão a ser.
No parto, além de nascer um bebê, nasce uma mãe, e isto é muito simbólico: no momento em que trazemos nossos filhos ao mundo, parimos também – ou ao menos, podemos parir – uma nova consciência, novas atitudes diante da vida, um olhar inteiramente novo para si, para os outros, e para tudo o que nos cerca. E isso não significa que apenas um parto natural sob a jaqueira fará de você uma mãe consciente e empoderada, mas que a forma como você decide olhar para esta experiência, seja lá qual ela tenha sido, terá muito a dizer a respeito da mãe que você há de ser.
Um parto, para mim, não é só um parto – é toda uma revolução. E para você?"

terça-feira, 1 de março de 2016

Desafio da vida real - Rosely Sayão

Desafio da vida real - Rosely Sayão
Ah, as redes sociais virtuais... Elas são capazes de causar grandes estragos na vida das pessoas, não é verdade? E não me refiro aos estragos que dizem respeito à reputação, à moral, à sexualidade, à exposição da intimidade, que também ocorrem, e muito!
Estou pensando no tal "desafio da maternidade" que rolou no Facebook. No início, parecia uma brincadeira boba, dessas que as crianças fazem entre si: "Vamos postar nossas fotos com os vestidos mais bonitos e ver quem ganha mais curtidas?", por exemplo.
A proposta do "desafio da maternidade" foi a de postar três fotos que deveriam mostrar a felicidade da mulher no papel de mãe. Depois, essa tinha de desafiar outras três e, assim, o desafio multiplicou-se numa grande velocidade. Ah! Que coisa mais romântica!
Uma foto com os filhos nunca corresponde à realidade vivida cotidianamente como mãe, nem mesmo um vídeo é capaz disso: mesmo nesta época do "Sorria! Você está sendo filmado", não somos quem somos quando longe das câmeras.
Uma foto é um recorte planejado para ser apreciado, para fazer bonito, já que será congelado por muito tempo e visto -e julgado- pelo outro! Quem já teve a oportunidade de observar pessoas fazendo selfie sabe muito bem como elas buscam seu melhor ângulo, seu sorriso mais bonito, seu olhar mais sedutor. Todo mundo quer sair bem na foto! Com os filhos, então, nem se fala!
Mas a brincadeira do desafio não terminou bem, como eu já esperava. Afinal, sempre que há competição pode haver alguma confusão. Algumas mulheres desafiadas reagiram à ideia da maternidade romantizada e desabafaram.
Quem não sabe que o exercício da maternidade é uma tarefa árdua? Mas a reação não foi bem recebida por muitas mães que estavam gostando da brincadeira, e pronto: confusão armada. Sobrou cartão amarelo para algumas, vermelho para outras, torcidas organizadas brigando, e o escambau.
O que podemos aprender com esse evento? Muita coisa, e quero ressaltar algumas delas.
Primeiramente: o exercício da maternidade é um desafio pessoal. PESSOAL! A maternidade envolve nossos afetos, nossos anseios, nossas potencialidades, nossas limitações, nossas "neuras", entre tantas outras coisas. E a verdadeira performance de cada mulher como mãe só se dá longe, bem longe do olhar dos outros. Só a própria mãe sabe -e nem sabe tudo!- o que se passa quando ela tem filhos.
O segundo ponto é delicado: estamos em busca da imagem de "mãe perfeita", e a internet tem grande colaboração nessa história. Mesmo nos desabafos, há essa busca: "Vejam que sou perfeita, porque assumo minhas imperfeições". Isso é o que podemos ler nas entrelinhas das mensagens e posts.
Esse ideal de mãe que procuramos é inatingível, atrapalha a realidade cotidiana de cada mãe, que já tem em seu imaginário essa meta, e provoca essa verdadeira competição exibicionista.
O último ponto que quero ressaltar é que ser mãe, hoje, parece ser um esporte olímpico em que só há três lugares no pódio. Às demais só resta a culpa por não ter conseguido chegar lá.
O que é isso, minha gente? Mães precisam se apoiar, ser empáticas umas com as outras, generosas, acolhedoras com as diferenças e as limitações -próprias e das outras-, sensatas e solidárias, já que cada uma sabe das suas dores e delícias no exercício da maternidade.
01/03/2016 folha de são paulo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sobre o #desafiodamaternidade

Pela primeira vez em 10 meses levei o meu filho ao pronto-socorro. Aliás, ele nunca tinha visitado um hospital antes, nem em seu nascimento (Sergito nasceu de parto natural domiciliar). 



Ele é um #babyboy esperto que se alimenta muito bem (haja apetite!), nunca apresentou quadro clínico preocupante. Mas, acreditamos ser por causa do início da dentição, teve febre e suas reações (falta de apetite, desânimo, só queria peito e colo). 



Aconselhada pelo pediatra dele, que estava acompanhando esse quadro febril desde o início via whatsapp, levei-o a um hospital que se diz conceituado por excelência em atendimento infantil. Não gostamos. Fiquei horas esperando os resultados dos exames, foi desconfortável, cansativo, tanto para mim quanto para o meu filho, e o que mais me deixou indignada foi a qualidade do atendimento pediátrico. 


Sei que em várias áreas de atuação existem bons e maus profissionais (ok… aprendemos ou aprenderemos a lidar com isso), mas, gente, são bebês, né?! Cuidado. Bem, mesmo tendo o laudo conclusivo do pediatra do PS do hospital (o que não nos deixou confortáveis), encaminhamos os resultados de todos os exames para o pediatra do meu filho que prontamente nos atendeu e não concordou com as afirmações do pediatra do hospital e esclareceu “os poréns” da discórdia. 

Um pouco mais de uma semana se passou e meu filho está 100%. 
O que sobrou dessa experiência foi a quebra de rotina do Sergito (antes ele dormia a noite inteira, agora ele acorda chorando muito querendo mamar). 
Ok. Tudo bem. 
Mas, apesar de todos os invés da maternagem (relacionamento do casal - homem e mulher, noites mal dormidas, correria do dia a dia, supermercado, refeições, ração e areia das gatinhas, limpeza e organização da casa, trabalho/carreira (horários que vc precisa honrar na firma), confesso que estou exausta. 
Eu disse EXAUSTA.

Além disso, e com toda sua importância e relevância, carrego no ventre há semanas outro serzinho. E esse é o meu #desafiodamaternidade. 
Trata-se apenas do começo de uma história de mamãe, papai e filhinhos. História da nossa família. Da minha família.

Quero deixar bem claro que isso aqui não é uma reclamação, como muitos podem pensar, mas, sim, uma constatação. 
A maternagem exige muito da gente e a gente tem o DIREITO de dizer “está cansativo”. 

Sinto-me privilegiada pelas escolhas que fiz na vida e uma delas foi lutar muito para ser mãe. 

Nada contra as fotos dos desafios, adooooooro. De verdade. Juro. 
Esse relato foi apenas um desabafo meu para o universo. 
Desculpe se incomodo. 




Ser mãe é ser desafiada todos dias.

"O exercício da maternidade é um desafio pessoal. PESSOAL! A maternidade envolve nossos afetos, nossos anseios, nossas potencialidades, nossas limitações, nossas "neuras", entre tantas outras coisas. E a verdadeira performance de cada mulher como mãe só se dá longe, bem longe do olhar dos outros. Só a própria mãe sabe - e nem sabe tudo! - o que se passa quando ela tem filhos." Rosely Sayão

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Relato de parto - nascimento do Sergito

Olá, pessoal,

O que mais desejava neste momento da minha vida era ter o meu filho. 
Queria acalantá-lo, sentir o cheirinho gostoso do topo de sua cabeça, o calor do seu corpinho em meus braços enquanto amamentava, cafungar em seu congote. Porque, apesar da dor de algumas despedidas inesperadas – tive três perdas gestacionais, a vontade de vivenciar/experimentar esse momento nunca tinha deixado de existir. Pelo contrário, esse desejo só aumentava. Mas alguma certeza em mim dizia que esse momento grandioso aconteceria e por isso me preparei.

Dentre as minhas vontades e expectativas, queria dar à luz, queria parir, queria sentir o que o meu corpo foi preparado/construído/projetado para tal finalidade.

Como sou portadora de IIC – Insuficiência Istmo Cervical – fui cerclada com 13 semanas de gestação no Hospital Pro-Matre pela dra. Rosiane Mattar.

Com 37 semanas a mesma doutora retirou a cerclagem em seu consultório. Na ocasião, estava com 3 cm de dilatação, algo já esperado por nós devido à incompetência do colo uterino. Por causa disso e passado o risco de o bebê nascer prematuramente, a expectativa de um início de trabalho de parto era iminente. Mas, como aprendemos que nada está sob nosso controle, esperamos.




Com 39 semanas + 1 dia, após a minha consulta do pré-natal com a dra. Solange Cabral em 2/4/2015, as contrações ritmadas começaram. Estava com 5 cm de dilatação. Sabíamos que o trabalho de parto estava próximo mas... procuramos conter a ansiedade. Voltei para a casa andando, mais ou menos 3 km – 20 minutos – do consultório até a minha casa, a fim de estimular o trabalho de parto. Tudo tranquilo, tudo indolor.




A minha tia Nita cuida da gente e da nossa casa todas às quintas-feiras. E dia 2/4/2015 era uma quinta-feira. Acontece que essa minha tia, além de ser maravilhosa em todos os sentidos, é um poço de ansiedade. Bem, ela quase me enlouqueceu para eu ir para o hospital. Tentei convencê-la de todas as maneiras, entre uma contração e outra, que não era necessário ir ao hospital naquele momento porque se tratava de pródomos. Ela não tinha a menor ideia da minha pretensão em ter o bebê em casa.

Na verdade verdadeira, ninguém sabia de nossa intenção de ter um parto domiciliar. Alguns até desconfiavam, mas provavelmente não imaginavam que seguiríamos com essa vontade adiante. Para evitar transtornos e interferências negativas em nossa decisão, preferimos manter sigilo. Era um desejo nosso muito forte. Não fazia sentido para mim, por exemplo, ter o colo do útero frouxo e ser submetia a uma cesariana sem razão. Estudamos muito para não sermos enganados.

Pois bem... quando a minha tia foi embora, por volta das 16/17 horas, liguei para a doula, Julia Baggio, e contei sobre as contrações ritmadas (de hora em hora e depois de meia em meia hora). Imediatamente ela veio para a nossa casa e, antes, me aconselhou a ligar para a enfermeira-obstetra, Vilma Nishi, e para o chuchu. Até comentei dizendo que talvez não seria o momento e que eu talvez nem estivesse em trabalho de parto. Fiquei preocupada em acionar a equipe e de repente ser alarme falso. Nem imaginava que estava enganada... o nosso bebê já estava pronto para vir ao mundo.

Enquanto a doula e o chuchu enchiam a piscina (banheira), a Vilma Nishi pediu para eu me deitar no sofá para que ela pudesse medir a dilatação do colo. Ao me deitar, senti um desconforto/incômodo. Parecia que algo bem lá embaixo estava prestes a estourar. E estourou. A bolsa rompeu. Saiu um bocado de líquido. Nós quatro nos entreolhamos e rimos satisfeitos. Pela medição, estava com 8 cm de dilatação. E sem dor.

A primeira fase do trabalho de parto (dilatação do colo uterino) estava quase em sua totalidade às 21h30/22horas.

Estávamos confiantes de que tudo seria muito rápido. Estava tudo evoluindo muito bem.
Faltava pouco para ter o nosso bebê em casa.

Entrei na banheira. Sentia-me relaxada. Um pouco apreensiva, pois não fazia ideia do que estava por vir. Sensação estranha. O tal desconhecido assustador. E, embora estivesse confiante e certa do que queria, estava com medo.





A segunda fase do trabalho de parto (expulsão) foi avançando, com ela também veio o cansaço excessivo, o estresse, os conflitos internos, o medo, os pensamentos mais angustiantes e o meu maior desafio: EXPULSAR O MEU BEBÊ.


Ficamos aproximadamente 6 horas tentando encontrar a melhor posição para o momento expulsivo. Saí da banheira, fui para o chuveiro, deitei-me na cama com o chuchu, deitei no chão da sala, voltei para o chuveiro e repetia tudo novamente.
Fiquei nauseada. A parteira me deu água com limão... vomitei na hora.
Estava exausta. Aliás, estávamos todos.
Nesse momento me senti fracassada, parecia que não ia conseguir.




A obstetriz fazia o monitoramento constante dos batimentos cardíacos do bebê. E toda vez que ouvia o coraçãozinho dele bater me sentia aliviada. Agradecia “om namah shivaya”. 





O meu bebê queria nascer e, sim, eu queria expulsar. Juro. Não sabia o que fazer apesar de todas as tentativas. Isso era tudo muito novo para mim também. E a sensação de impotência quase me fez desistir.

A Vilma Nishi ficou preocupada com as condições do bebê, pois fazia um bom tempo que ele se encontrava no canal cervical, sugeriu que fôssemos ao hospital para terminar o que começamos. Faltava um triz para ele nascer. Eu senti. Coloquei o dedo lá. Sentia a cabeça cabeluda dele.

Fiquei aflita com a possibilidade de ir para o hospital.
Não queria. Juro. Não queria.
Palavras da parteira: 
“Não é o seu filho que nasce é você quem o expulsa, por isso essa fase se chama expulsiva”.
E como expulsá-lo? Eu não sabia fazer isso.
Que angustia.

Separando as malas para irmos ao hospital, senti outra contração forte e fiz força.
Muita força.

A obstetriz pediu para o chuchu me segurar por trás.
Ali, no nosso quarto, apertei-o com tanta força que parecia que ia quebrar o braço dele.
E gritei. Gritei bem alto. Berrei.

A Vilma Nishi lá no chão, eu e o chuchu entrelaçados, e a cabeça do bebê coroando.
Senti uma queimação. O famoso anel de fogo.
“Tá queimando. Tá queimando.” Eu gritava.

Aconselhada, deitei-me no chão sobre o lençol descartável.
Fazia muita força e em alguns momentos a parteira pediu para eu diminuir a intensidade para não lacerar o períneo. E então ela passava uma espécie de óleo.
Lembro-me que eu pedi para ela me ajudar. Não sei por que pedi isso. Acho que sentia 
medo.

Às 2h40, madrugada de 3/4/2015, sexta-feira, no nosso quarto: RENASCI.
MEU FILHO NASCEU. EU O EXPULSEI.
PARI. CONSEGUIMOS.

Finalmente sou mãe com o meu bebê sobre o meu peito, embalado em meus braços. Veio ao mundo sem cortes, sem drogas para dor, sem medicamentos para indução, com vérnix, com períneo íntegro, com a presença do pai. Veio com amor. Contra as falácias do sistema, empoderamos como queríamos.


E mais do que isso, o chuchu disse que o pós-parto e o nenê perfumaram o nosso lar.
Quanta alegria. Que felicidade.

Estava ainda no chão, sentia muito frio e ainda faltava a última fase do parto que é a dequitação (expulsão da placenta). A Vilma Nishi começou a puxar a placenta e eu gritei. Pedi para parar.
Estava dolorida e eu e o chuchu tínhamos conhecimento de que a placenta sairia sozinha.
Ela insistiu, disse que eu correria o risco de hemorragia caso não tirasse a placenta. Pedi para ela parar. 





Conduziram-me para a cama e eu ainda estava com o bebê em meus braços. A parteira me ajudou a dar o peito. 






Nesse momento o chuchu cortou o cordão umbilical e a última fase do trabalho de parto ainda não tinha terminado, ou seja, a placenta ainda não tinha saído.

A parteira foi colocar uma roupinha no bebê junto com o chuchu.
No momento em que ela se distanciou, a placenta começou a sair sozinha.
Ou seja, não precisava puxar.
NÃO PRECISAVA PUXAR.

A Vilma Nishi foi embora. Logo em seguida a Julia Baggio foi também.

Estava cansada. Muito cansada. Meu corpo pedia cama.
Adormecemos nós três, eu, chuchu e o nenê, naquela manhã que amanhecia silenciosamente.


OBS.: tivemos o apoio incondicional de nossas queridas gatinhas. A Aretha tem medo de sangue e não é muito sociável e ficou o tempo inteirinho escondida. Já a Donatella, muito curiosa, acompanhou tudo de pertinho e foi a primeira a me dar beijinhos e os parabéns pelo nascimento do nenê. Meaw. =ˆ.ˆ= =´.´=



segunda-feira, 25 de março de 2013

Mãe de anjos

Volto aqui para registrar mais uma gravidez interrompida e não me questiono.
Dependendo da ótica, pode transparecer arrogância ou sinceridade excessiva.
Não sou quem decido.

Acredito na existência de um ser superior, sim, mas sou completamente contra a qualquer tipo de idolatração e apologia.
Olho para céu e agradeço. Sempre agradeço.
E, às vezes peço sim.
Peço sabedoria, saúde e proteção para mim, meus familiares e pessoas queridas.
Hoje, apesar de tudo, agradeço de novo.
Sou mãe de anjos, pois "crianças não morrem, só vão para o céu."

Sempre gostei muito de criança e sempre desejei ser mãe. 

Mas, nunca pedi, muito menos planejei uma gravidez. Obviamente que o acaso nos premiou e permitiu a fecundação. E todas foram esperadas com muito amor, cercadas de muito cuidado. Mas há coisas que fogem do nosso controle e entendimento e eu aprendo isso dizendo adeus.

Em 20/3/2013 fui fazer um ultrassom obstétrico para certificar que o hematoma tinha sido cicatrizado.
Percebi o rosto corado e os olhos cheios d'água da médica e, óbvio, reparei que o feto não se mexia e, mesmo assim, comentei:
– Nossa, esse bebê está muito quietinho.

Sim, o bebê estava sem vida.
Fiquei meio paralisada, sem entender que aquilo estava acontecendo.

A médica tentou me consolar, informou-me também que o embrião tinha sinais de má formação e que teria algum tipo de síndrome.
– O quê?

Tentei assimilar tudo e não, nunca, jamais perguntei:
– Por quê? O que eu fiz? Por que comigo de novo?

Sabe, não me sinto culpada, muito menos desprivilegiada.

Estávamos entrando na 9ª semana.
Conversamos com a Dra. Rosiane Mattar, e ela acha que estamos sendo vítimas do azar porque nenhuma perda teve correlação.

Sábado, 23/3/2013, às 8 horas da manhã fui internada no Hospital e Maternidade Santa Joana, a pedido da Dra. Solange Cabral, por causa do aborto retido. Às 10 horas foi introduzido um comprimido de misoprostol 200g. Às 13h30 fui encaminhada para o centro cirúrgico a fim de retirar o embrião, tomei sedativo e apaguei.
O Chu estava o tempo todo comigo.
Recebi alta às 21 horas e a minha sogra foi nos buscar.

Nenhuma de nossas gravidezes foi planejada, mas, a partir do momento que soubemos estar grávidos, todas as nossas energias foram postadas/depositadas para que tudo desse certo.
Há, sim, uma frustração. Um sentimento de impotência, mas sabemos não ter culpa.

Apesar de tudo, estamos bem.
Bem, bola pra frente, pois amanhã será mais um novo dia.

Obs.: será feita uma INVESTIGAÇÃO.  A coleta para saber o que houve e quais as consequências dessa gestação já se encontra no laboratório Salomão Zoppi.

sábado, 16 de março de 2013

Antes da descoberta

Com muitos objetivos a ser alcançados em 2013, comecei o ano cuidando bem mais de mim.
Em janeiro fui à dermatologista, Dra. Maria Heloiza Carrasco Salviati, a fim de começar o tratamento para pele, iniciando desde então o uso de manipulados. Além disso, agendei para o fim de fevereiro alguns exames de tiróide, triglicéride e outros que ela tinha me pedido também.
Tudo encaminhado.

Tracei uma meta esportiva também, além dos exercícios diários na academia, indo e voltando do trabalho de bike, decidi que participaria de pelo menos 1 vez por mês de uma corrida de rua, ambicionando participar da São Silvestre de 2013.
Perdi a primeira prova em janeiro, XVI Troféu Cidade de São Paulo, por não conseguir acordar cedo. Compensei na esteira da academia e, por essa falta de "comprometimento" e treinamento para isso, claro, desafiei-me a correr 10k na inscrição seguinte. A meta era chegar em um tempo máximo de 1h10min, e ela foi devidamente alcançada, sem cansaço aparente, sem palpitações. =D
Yes. I'm back.

No Carnaval de 2013, diferentemente de todos os outros com o Chu, viajamos.
Fomos a Juquitiba, no sítio do meu tio-padrinho Gegê.
Passamos dias tranquilos, divertidos, cheio de crianças e comilanças.
A minha tia-madrinha, Zélia, arrasou nos deliciosos pratos servidos no almoço.
– Ai que fome! Ai que delícia! Ai que sucesso! rsrsr




Outro momento marcante foi o casamento da minha amiga realizado em 16/2/2013.
Diverti-me horrores, dancei, pulei, cantei, comi e bebi pra caramba. rsrsr
Nem imaginava que Jesualda esperava baby.

Obs.: ao voltar um pouco nos arquivos, quando descobrimos estarmos grávidos pela primeira, há uma grande coincidência com essa gestação.

terça-feira, 12 de março de 2013

"Aparentemente, nosso organismo quer que isso aconteça"

Essa foi a frase mirabolante que o Chu escreveu após o meu surto na manhã de 20/2/2013, quando novamente descobrirmos estar grávidos.



Relutei muito em escrever, aliás, não imaginava que voltaria tão logo a relatar outra gestação aqui.
Isso, sem dúvida, revira os meus sentimentos mais secretos, mexe com as minhas emoções, aguça a minha ansiedade tão bem controlada nos últimos meses, graças ao ioga e às sessões de terapia, ativa a tecla "alerta" do meu cérebro.




Bora contar tudo?

"Inventamos" um evento grandioso a ser realizado em 19/10/2013 para que o desejo de nos tornar pais fosse adiado por algum tempo, para que nossas feridas fossem cicatrizadas, para que pudéssemos amadurecer e crescer com a partida da nossa pequena Laura.

Estava cuidando da minha saúde física, mental, espiritual.
Desde dezembro do ano passado, estava de volta, digamos assim, às minhas deliciosas práticas esportivas.
Musculação, funcional, corrida, ioga, dança de salão, bike.

Superfeliz da vida, sem cansaço, superdisposta, animada, cheia de energia e disposição.
A vida finalmente voltava a sua plenitude e normalidade.
Um dia de cada vez. Sem pressa.
Oh, delícia de vida, viu?!

Não estava tomando contraceptivos, lembra?
A investigação sobre eu ser portadora de IIC foi concluída na metade de dezembro de 2012 e eu não podia tomar hormônios até então.
Por causa dos meses de férias, dezembro e janeiro, não foi difícil encontrar obstáculos para encontrar algum médico que me atendesse nesse período.

Obs..: imensamente insatisfeita com a  realidade imunda do sistema de saúde, inclusive particular, do nosso país.

No início de fevereiro, consegui marcar consulta com a Dra. Solange Apa. Monteiro no bairro da Bela Vista. Ela já atendeu algumas mulheres de nossa família, incluindo minha mãe, minha sogra e minha cunhada, mas não foi a primeira vez que estive em seu consultório.

Na primeira gestação, estava com dúvida se queria mesmo que o Dr. Fábio Suzuki acompanhasse o meu pré-natal, não me sentia muito à vontade com ele, pois todas as minhas dúvidas eram explicadas/esclarecidas assim:
– Não se preocupe, isso é normal.
– Gravidez não é doença.
– Não se preocupe, você tem saúde de sobra, só não pode engordar muito.

Tudo muito vago, sabe? Por essa razão, eu o Chu a procuramos.
Na ocasião, ela nem sequer quis entender os motivos que nos levaram até lá.
Perguntou apenas se tínhamos acompanhamento para o pré-natal e se recusou a dar qualquer tipo de informação ou opinião sobre a gestação, pois, ao parecer dela, estávamos em ótimas mãos.
Falou que o Dr. Fábio era colega/amigo dela e nos tranquilizou dizendo que ele era um excelente profissional e que ficaria tudo bem conosco.
Óbvio que não falaria o contrário, talvez por ética profissional, não sabemos.

Dessa última vez, em fevereiro, era a minha primeira consulta ginecológica depois da descoberta sobre a patologia.
Não vou negar, estava um pouco ansiosa.
Queria falar tudo o tinha acontecido, sobre a IIC, como os dias foram difíceis, mostrar os últimos exames, a carta da Dra. Rosiane Mattar confirmando o meu caso, além de reafirmar o meu desejo em ser mãe novamente, mas, diferente da primeira gestação, pretendia estar preparada para isso, se é que você me entende.

Mas, quando a expectativa é demais, a gente acaba se frustando.
Inevitável.

Pontualmente às 8h30 estava em seu consultório, esperei por ela 1 hora e meia.
A recepcionista informou-me que ela estava fora realizando um parto, até aí tudo bem, não tinha pressa. Eu podia esperar.
Não sei exatamente o que houve, se ela não teve uma manhã muito boa ou que bicho que mordeu ela, e isso, definitivamente, não me diz respeito. Talvez tenho sido indelicada com as minhas perguntas e solicitações, afinal, quem eu penso que sou? Querendo ensiná-la a trabalhar é?
Juro que não tive essa audácia, mas ser atendida grosseiramente em 15 min doeu meu coração.
Será que estava carente demais?

Faço questão de registrar alguns momentos:
– Oi, Ana, você já esteve aqui não é mesmo?
(sei lá se ela realmente se lembrou de mim)
– O que te traz aqui?
– Está tomando anticoncepcional?
– Se está precisando de exames, procure um clínico geral, pois eu não posso ajudá-la.
(oi? não, não, quero apenas exames ginecológicos para certificar que está tudo bem comigo)
– Ah... ultrassom e mamografia? Eu vou pedir.

Pronto, acabou.
Examinou-me, sim, receitou o contraceptivo, e pediu os exames, mas não perguntou sobre a minha perda gestacional, sobre os últimos exames realizados, nem a investigação, e eu me senti o cocô do cachorro.
Triste.

Fui para casa e no caminho já comprei o anticoncepcional e coloquei-o na bolsa, só aguardando o primeiro dia de menstruação.

A minha última menstruação foi em 16/1/2013 e nunca imaginaria estar grávida novamente, apesar de saber como se faz um bebê, mas eu e o Chu estávamos tomando tanto cuidado, camisinha, tabelinha, que a hipótese de gravidez nesse momento era totalmente nula.
Além disso, nenhum sintoma aparente de gravidez, aliás, essa está sendo completamente diferente da primeira. Sem enjoos, sem irritação, sem angústia, sem ansiedade, sem dores e sensibilidade nos seios, sem sono, com muita disposição e energia, mas cadê a menstruação?
Dia 19/2/2013 resolvi comprar o teste de farmácia.
Fui tranquila, coração sossegado.
– Até parece que estou grávida.

Vejam o resultado, o mesmo enviado pelo WhatsApp para o Chu, sem nenhum comentário.


Estamos grávidos again. =)
Na descoberta, estávamos com 5 semanas.